Há algum tempo confesso que algo tem me incomodado. E a dúvida que insisti em retornar à minha grande massa cefálica, fazendo até meu córtex inflar sem resposta, é se o trabalho seria uma bênção ou uma maldição. Precisamente, não sei definir o porquê desta inquietação, porém perturba-me um pouco quando ouço pessoas dizerem: “graças a Deus estou trabalhando”, “o trabalho dignifica o homem”, et cetera.
Quando consegui o emprego atual, amigos disseram parabenizando-me: “Wilson, que bênção! Que bom que você conseguiu um emprego rápido, felicidades, cara”. É claro que comprazo-me com as sinceras congratulações de cada um deles. No entretanto, insisto — a crise é comigo mesmo (risos).
Ah, tenho comigo que o trabalho não é nada de bênção! Pelo contrário, é maldição. Veja bem que não é qualquer ‘maldiçãozinha’, esta é séria: é uma maldição dirigida ao homem por Deus, devido sua transgressão cometida no Éden. Bom, não entendo ‘patavinas’ de nada da Bíblia, assim mesmo desejo recorrer a ela.
Está escrito no livro do Gênesis cap. 3, 17-19: “...maldita seja a terra por tua causa.Tirarás dela com trabalhos penosos o teu sustento todos os dias de tua vida. Ela te produzirá espinhos e abrolhos, e tu comerás a erva da terra. Comerás o teu pão com o suor do teu rosto, até que volte a terra de que foste tirado; porque és pó, e em pó te hás de tornar.” Veja bem, não foi somente o homem que teve o seu castigo, não! Sobrou para a mulher também. É só dá uma “espiadinha” no versículo 16 do mesmo capítulo 3. Lá relata que a mulher terá dores no parto, e, o pior, terá sempre desejo pelo homem, sendo assim até submisso a ele (risos). Imagino que os movimentos feministas devem odiar este versículo! Quanto ao texto do Gênesis, é bom lembrar que a cultura hebraica era e é uma cultura machista. Bem, a nossa cultura ocidental também, só que de forma velada.
Particularmente, qualquer tipo de preconceito de conotação machista só vem mostrar como o homem tem o cérebro do tamanho de uma noz.
Voltando ao tema do trabalho.
Segundo a Bíblia, como foi Deus que criou o homem e a mulher, certamente conhecia suas predileções pelo ócio, pela vida boa, enfim, pela ‘sombra e água fresca’, como apregoa a gíria popular. Creio que Deus pensou: “pegarei eles pelo ponto mais fraco”. E, bingo...! Hoje, estamos penando para ganhar nosso pãozinho de cada dia. Tudo isso devido à desobediência daqueles curiosos.
O trabalho não é uma bênção. Prova disso é que todos querem fugir do trabalho. Pode até haver aqueles que dizem que gostam de trabalhar. Contudo, ao final, não vê a hora de se aposentarem. Outra coisa sobre aqueles que dizem que trabalho é uma bênção ou dádiva (escolham a palavra mais agradável que preferirem), nunca os vi dizendo: “nossa como o trabalho é algo abençoado, por mim trabalharia até o fim da vida, nem salário gostaria de ter”. E mais, se o trabalho é uma graça divina, jamais vi alguém agarrando as britadeiras que os construtores usam para quebrar as ruas daqui de Campinas dizendo: onde você conseguiu esta ferramenta pesada de serviço, necessito desta bênção de Deus para minha vida.
Permitam-me um parêntese: quanto à dor de parto da mulher, jamais vi alguma que já é mãe dizer: “o mais sublime e gostoso ao dar à luz a um bebê é quando começam as dores de parto. Sinto-me nas nuvens”. Quem já teve a oportunidade de ver um rosto de uma mulher num serviço de parto (ao vivo, num vídeo ou documentário) pode notar que os seus semblantes não são dos melhores. Acrescentando, também há os maridos, movidos pela emoção da paternidade, que decidem presenciar o nascimento do ‘filhão’. Todavia, não suportam ver o rosto distorcido em dores da esposa, desmaiando ele assim de fraquezas, tonturas ou sei lá do que, propriamente...
Voltando. Quero salientar que, com este texto, não quero iniciar um levante contra o trabalho, tentando iniciar um processo de revolução a favor do ócio absoluto (não seria nada mal se isso ocorresse... risos). Assumo que não tem jeito, temos que carregar esta maldição até o fim da vida. É uma lei divina, provinda das Sagradas Escrituras. Há um provérbio latino que diz: lex duralex sed lex (a lei é dura, mas é lei).
Concluindo, o trabalho é, de fato, uma maldição (o fruto dele, não). Vem-me à lembrança dois belíssimos romances do russo F. Dostoiévski chamados Crime e Castigo e Os irmãos Karamazov. Tive a oportunidade de lê-los. E para comprovar esta minha intuição do trabalho como castigo (maldição), nas referidas obras os dois personagens centrais de cada romance (respectivamente Raskolnikov e Dimitri Karamazov) foram condenados a trabalhos forçados na prisão da Sibéria. (ih, revelei o final do romance...)
O trabalho é uma maldição.
Deixando um pouco de lado a visão negativa que escrevi do trabalho, reconheço os frutos positivos que brotam deste fardo, usufruo alguns deles. O trabalho só não pode fazer-nos pender — e isto geralmente acontece devido à sociedade capitalista e consumista em que vivemos — à tentação da alienação. Nota-se que atualmente as pessoas já não se reconhecem mais no mundo em que vivem, confundem-se nele completamente: respirando alienadamente escritórios, lojas, fast-foods, etc... Não procuram buscar o tempo preciso para exercer o ócio produtivo e revitalizador de agradáveis sentimentos e relações humanas.
Aí vai um pequeno poema do falecido gaúcho Mario Quintana. Nele há sua opinião a respeito do trabalho em sua época.
“O ópio
Dizem os comunistas que a religião é o ópio do povo;
Outros dizem que o ópio do povo é precisamente o comunismo; se pedissem a minha opinião, eu diria que o ópio do povo é o trabalho.” (Do livro Caderno H)
Então, ‘trabalhadores do mundo, uni-vos!!!
Paz a todos....!
sexta-feira, 6 de novembro de 2009
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário