segunda-feira, 8 de março de 2010

O beijo

Cá pra nós, esta história de ‘primeiro beijo’ realmente provoca a nossa atenção, mesmo que isto tenha ocorrido há muitos e muitos anos (risos). Contudo, é só escutarmos uma turminha debatendo e partilhando sobre o assunto que, como um passe de mágica, acabamos por viajar no tempo até aquele dia fatídico. Comigo não foi diferente.
O Uruguai nos presenteou com um escritor fabuloso chamado Eduardo Galeano (ainda está vivo, graças aos deuses). Possuo duas obras dele. Numa delas, chamada O Livro dos Abraços, escreve o hermano uruguaio: “somos todos mortais até o primeiro beijo e o segundo copo...” Não sei o porquê deste trecho chamar tanto a minha atenção. Talvez porque seja um fato que um(a) adolescente, ao dar o seu primeiro beijo, torna-se um abobalhado, fica dias pensando naquilo; caminha sobre as nuvens... Parece que a sua mortalidade se foi, sente-se imortal, dá a entender também que descobre o infinito que estava escondido no profundo da sua ingênua alminha. Em suma, fica inquieto enquanto não provar daquele toque labial novamente.
Bom, nestes dias, ao passar próximo de uma turma de garotos duma escola aqui perto de onde trabalho, escutei que eles falavam da experiência dos seus primeiros beijos. Os moleques tinham cabelos estranhos, “lambidos” pra baixo e colados no rosto. Outros possuíam bonés tão grandes que cabia dentro deles toda aquela gargalhada que soltavam depois de escutar o relato de um dos colegas.
Assim, não deu outra! O assunto do ‘primeiro beijo’ deles levou-me a recordar também do meu primeiro contato labial (a violação do lacre bucal..rsrs). Contudo, com uma diferença entre mim e eles: neles estavam cravados em suas memórias, detalhadamente, os nomes e como era a face das suas meninas. Enquanto a mim, por mais que me esforçasse, não conseguia trazer à minha lembrança o rosto e nem o nome da garota do meu primeiro beijo. “Mas que puxa...!” (para usar uma expressão do Charlie Brown, do Snoopy). A curiosidade, sorrateiramente, foi roubando em mim a calma onde dormia a minha alma, provocando-me a incômoda sensação que parecia que eu não tive esta experiência. “Mas que puxa...!”
Não me contive, iniciei uma epopéia interior particular tentando juntar todos os fatos que me vinham à memória, dos quais levaram-me ao primeiro beijo. A recordação desses fatos agradou-me pouco ou quase nada, pois não consegui mesmo lembrar-me do nome ou do rosto da menina.
Bom, então, vá lá!
Era uma noite como uma outra qualquer. A não ser que nesta, em especial, aconteceria a despedida de solteiro de um primo meu. Nunca participara de uma despedida de solteiro (seria a primeira e ainda está sendo a última). Esta ‘despedida’ tinha a sua peculiaridade, pois o meu primo fazia parte da congregação das Testemunhas de Jeová. “Valei-me, Deus! Como será uma ‘despedida de solteiro’ de um Testemunha de Jeová?”: indagava-me comigo mesmo. A dúvida e a curiosidade corroíam-me aos extremos (rsrs). Pronto, era fácil de se deduzir: a despedida de solteiro do meu “primo testemunha” não teria nada das coisas que já sabemos o que tem numa tradicional ‘despedida’ (rsrs) .Não teria bebida, homem vestido de mulher, e outras coisas mais ‘pesadas’ que não escreverei, pois estou certo que suas imaginações já alcançaram estas ‘coisas’ que me abstive de escrever aqui (srsr).
Prossigamos.
Não sei dizer de que modo conseguiram infiltrar tantas bebidas naquela festa, ainda mais por ser uma festa de um ‘testemunha de Jeová’. “Mas já que elas apareceram, aproveitaremos pra fazer algo com elas”; dizia a maioria dos meus primos, triunfantes e cheios de “nobres” intenções (rssr). Inventaram uma tal brincadeira chamada ‘pergunta e responda’, e quem não conseguisse responder a charada proposta teria como ‘castigo’ que tomar meia garrafa de uma mistura fortíssima de bebidas alcoólicas.
A sorte definitivamente não era minha companheira naquela noite. Em assunto de bebida, eu era um calouro. No entanto, fui justamente o primeiro a sofrer o castigo. Depois de tomar aquela meia garrafa de forte bebida, passaram-se somente 2 minutos para uma chuva de gargalhadas dos meus primos anunciarem pra mim que eu estava “bebinho”; saí rapidamente dali, fui pra casa cambaleando deitar. Na cama, a cabeça girava numa velocidade monstruosa. Adormeci.
Após 5 horas acordei, era zero hora e alguns minutos. Ainda estava bêbado. Resolvi voltar à casa do meu primo, lá havia alguns jogados pela sala, outros no chão e sofás, bêbados também (risos). Meu irmão, que apareceu não sei de onde, viu-me; ria de mim copiosamente. Seus dentes brilhavam mais dos que as estatuetas de prêmio do Oscar dadas ao pessoal de Hollywood. Seu riso me chateava um pouco, resolvi ir pra rua. A noite era quente e de verão. Então, na rua, se via várias pessoas conversando em frente os portões.
Na calçada do meu primo testemunha de Jeová, um grupo de meninas travava conversas. As risadas ouviam-se a quilômetros. Passei pro outro lado da rua (estava tonto ainda), juntei-me aos garotos. Alguns, do mesmo modo, estavam tontos (efeito da bebida); outros, não. O assunto daquela roda de garotos variava entre futebol, escola, desenhos animados e sei lá mais o que... Eu não conseguia acompanhar o papo, a cabeça continuava girando: só ria fortemente, fingindo compreender toda a conversa (rsrsr). Para minha surpresa, subitamente, uma das garotas sai do outro lado da calçada do grupinho das meninas e vem em minha direção. O silêncio toma conta dos meus amigos, calei-me também. Os burburinhos que se ouvia assemelhava-se aos de um velório, os olhares deles não permitiam um piscar de pálpebras. Suspense total.
Então, a menina se aproxima de mim e, ao meu ouvido, diz pianíssimo: “a minha amiga deseja te conhecer melhor”. Depois, levanta o indicador mostrando-me quem era. Surpreendi-me, pois eu não chegava nem perto de ser o garoto mais belo dos rapazes. Sem modéstia alguma, era um dos últimos na hierarquia da beleza (rssr). Eu tremia, enquanto o frio na barriga congelava minhas tripas. “Hei, o que respondo a ela?” — perguntou-me após alguns segundos a menina. Respondi, trêmulo: “por mim...? Tudo bem”.
Não lembro como eu e a menina interessada nos destacamos dos(as) nossos(as) amigos(as). Recordo-me somente dos assovios e gozações vindo dos moleques enquanto caminhávamos; isto tudo pq a menina que queria “me conhecer melhor” não era tão agraciada com o dom da beleza e era a mais gorda das garotas ali. Francamente, eu nem ligava tanto pra esta questão. Contudo, o constrangimento causado pelas gozações dos meus amigos quase fez-me hesitar. Prossegui caminhando ao lado dela. As pernas eram frágeis pela vergonha. Ficamos a sós.
Ao parar em frente a um seminário protestante luterano que havia no bairro, ficamos fitando-nos. Eu nem sabia o que conversar (e a embriagues não me ajudava também a iniciar uma boa conversa). (rsrs) Então, ela disparou a falar sobre diversas coisas. Não compreendia nada, só sabia que não tinha nada a haver com beijo ou paquera. Cada assunto maluco ela falava...!
Chris Rock (humorista e ator americano), disse numa apresentação que o primeiro beijo normalmente vem quando menos se espera, e quando a conversa gira em torno de temas inusitados “sem pé nem cabeça”. Comigo não foi diferente.
Bom, depois de discorrer em todos os assuntos que nem lembro, por fim, a menina me disse: “Wilson, gostaria de te dar um beijo”. Tremi, a embriagues repentinamente abandonou-me. A salivas desciam dentro da minha garganta em formas de bolinha de tênis. Foi quando respondi envergonhado: “não sei beijar”. Ela riu, pois não cria em mim, achava que eu era perito no assunto. Puro engano! As cores se divertiam em meu rosto, devido a forte vergonha que sentia: um verdadeiro arco-íris facial.
Seus braços, curtos e volumosos, curvaram-se sobre minha nuca, agarrando-me e forçando-me delicadamente em direção ao rosto dela. O meu peito era uma bateria ‘nota dez’ da Vai-vai, só que batia atrapalhadamente e fora do compasso. Clamava a minha embriagues para me auxiliar — sei lá... fazer-me desmaiar ou cair de tontura — porém, nada. E os rostos se aproximavam, lentamente, até que... Beijamo-nos.
Não lembro o que senti, creio que nada. Ficamos juntos alguns momentos, beijamo-nos um pouco mais, um pouquinho mais... Após cada beijo, seguia-se um silêncio sepulcral. Concluímos nosso encontro com um forte abraço e afagos, voltando depois aos amigos(as). Os meus, gozavam-me gritando em meu ouvido: “como você teve coragem?”, “não acredito!” “vai dar casamento com a gordinha, hein”. As amigas dela, não sei.
Não me incomodei. Mesmo sem ter sentido nada de extraordinário, achava-me o máximo, sentia-me soberbo. Os rapazes não sabiam que era o meu primeiro beijo; meu irmão suspeitava, por isso era o mais comedido nas gargalhadas. Olhava pra mim com um certo semblante orgulhoso, como que dizendo: “este é o meu maninho!”.
A menina? Bem, durante algum tempo mandava-me recados pelas amigas manifestando o desejo de namorar comigo. Enviava-me também cartas cheias de poeminhas e versinhos, assinadas com beijos cheios de batom no fim da folha (as meninas tinham este costume naquele tempo. Vai entender...?!), sem sucesso.
E eu? Sentia-me imortal; perdi enfim, a minha mortalidade. Hoje, sinceramente não me lembro do nome e do rosto da garota: a embriagues talvez, creio eu, turvou-me de guardá-los na memória.
Droga de bebida!!!
Como iniciei citando Eduardo Galeano, concluo com ele que também escreveu no Livro dos Abraços: “bem aventurados os bêbados, eles verão a Deus duas vezes”.

Abraços e desejos de paz.
Até a próxima!!!

Um comentário:

  1. que coisa eu wisk!!

    sabe que sem querer sua historia me fez lembrar do meu primeiro bj! eu me lembro do rapaz sim. Dia 1/6/2006 fazia 1 mes que eu tinha voltado de uma experiencia no convento, estava na missa e uma amiga me convidou pra ir numa festa em charqueada, foi ela e o marido, o irmão dela Luciano e eu, antes de ir passamos em casa pra avisar minha mãe e como era com a Graciete minha mãe deixou. fomos pra festa e chegando lá ela foi passear com o marido e antes de sair o marido disse 'cuida bem da menina heim!' eu sinceramente inocente na historia que eles ja tinham combinado...então o rapaz me chamou pra dar um passeio pela festa, fomos ele foi se afastando do local e eu fui junto, eu confiava nele...fomos até uma casa antiga de sitio muito bonita e lá começamos a conversar sobre muitas coisas até que ele me perguntou se eu queria que ele me mostrasse como era um beijo, pois ele sabia que eu nunca tinha sido beijada e quando mais ele se aproximava mais eu ficava com muita muita vergonha...derepende ele ma abraçou e me beijou a unica coisa que eu senti foi VERGONHA e vontade de sair correndo... mais depois de um tempo foi muito BOM!!, conversamos bastante e somos amigos até hj, ele já se casou e tem uma filha linda, beijar um amigo é muito melhor ele me compreendeu bastante enfim, foi BÃO DE MAIS DA CONTA... uma experinecia que eu levar pra vida toda, é como se diz o primeiro BJ a gente nunca esquece pode ate se esquecer da pessoa mais não do BJ

    é isso ai wisk, valeu por me fazer lembrar de BJ muito estranho mais BOM é claro!

    Anágela Carvalho
    anagela.blogspot.com
    sjs.misericordia@gmail.com

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